25/02/2010

Meu amanhã


Dessas vezes que cantam poesias... Da maestria de Lenine:

- Meu amanhã -

Ela é minha delicia
O meu adorno
Janela de retorno
Uma viagem sideral
Ela é minha festa
Meu requinte
A única ouvinte
Da minha radio nacional
Ela é minha sina
O meu cinema
A tela da minha cena
A cerca do meu quintal
Minha meta, minha metade
Minha seta, minha saudade
Minha diva, meu divã
Minha manha, meu amanhã....2x
Ela é minha orgia
Meu quitute
Insaciável apetite
Numa ceia de natal
Ela é minha bela
Meu brinquedo
Minha certeza, meu medo
É meu céu e meu mal
Ela é o meu vício
E dependência
Incansável paciência
E o desfecho final
Meu fá, minha fã
A massa e a maçã
Minha diva, meu divã
Minha manha, meu amanhã
Meu lá, minha lã
Minha paga, minha pagã
Meu velar, meu avelã
Amor em Roma, aroma de romã
O sal e o são
O que é certo, o que é sertão
Meu Tao, e meu tão...
Nau de Nassau, minha nação.


22/02/2010

Per-dôa o que doer?


"E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário... por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo."
[Caio F.]

Esses versos traduzem uma certa essência teimosa daquela que toca por aqui... O perdão me chega como parte já embutida, mas não é algo que se faz em uma palavra e decisão... é atitude que se faz diariamente, e ao perdão é necessário também ser conquistado, ainda que ele me venha sem arrancar pedaços.

Por muitas vezes fui considerada tola, por ter um coração que perdoa fácil, que não cultiva rancores como capim, mas este foi o coração que me deram e sabe o que percebo? Pode não melhorar quem o recebe, mas florece um bem enorme em mim!
Perdoar não é falta de mágoa... esta é dor inevitável ao menos aos primeiros dias...
Perdão não é apenas uma palavra após pedido de desculpas, são doses homeopáticas e conquistadas dia a dia.
Perdoar não é apagar, é a esperança que Deus pôe em que o bem deve prevalecer, é dar a outra face, fortalecida por dentro, e embora prudente, acreditar em alguma essência daquele que te fere.
Perdoar, às vezes é fazer remendos, outras é arrancar a folha do livro deixando as marcas, por vezes pode ser um livro novo!


by Raiana, que mesmo com o coração pesado, toca em frente em seu voo de asa-delta... 



08/02/2010

Do cárcere à liberdade!



Foto: Mario J Silva

O espaço da antiga Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru e famosa por sua trágica história de superlotação, rebeliões e chacina, desativada e parcialmente demolida desde 2002, finalmente ganha bons frutos - liberdade de imaginação e expressão, com a inauguração da nova e moderna Biblioteca de São Paulo.

O novo espaço cultural, que ocupa um pavilhão de 4.257 m², com ambiente temático e atrativo, dispondo de uma estrutura moderna, arejada e essencialmente colorida, ganha ares de uma grande livraria, ingredientes fundamentais para a atração dos leitores, além de um acervo diversificado, dos clássicos da literatura à revistas adolescentes - "O frequentador vai encontrar os livros expostos pela capa, sem pretensão didática ou de erudição. Vão estar ali os livros mais procurados e os lançamentos recentes. O local pretende ser uma biblioteca que chama o público para ler. Vai ter Playboy, Claudia, Capricho e Caras", enumera Sayad.


A localização da Biblioteca em frente a estação de metrô Carandiru é uma das grandes motivações para o fácil acesso à este novo investimento, que conta com entrada franca.
Os ambientes são divididos por faixa etária e tem um enorme apelo visual, fazendo o diferencial, particularmente sempre gostei nessa aposta de apelos em conjunto, para deixar a leitura como fonte de prazer e interação!
O acervo contendo cds, dvds,revistas, quadrinhos e jornais variados além de equipamento modernizado para liberação de empréstimo e salas de informática é uma moderna iniciativa para adequação com os hábitos da nova geração.
Há ainda um auditório para palestras e eventos e uma área externa coberta, com café e espaço para apresentações artísticas.

O investimento financeiro foi de R$ 12,5 milhões (R$ 10 milhões do Estado e R$ 2,5 milhões do Ministério da Cultura). Claro que em época próxima à eleições, deverão existir críticas do intuito eleitoreiro, porém acredito que precisamos esquecer um pouquinho o ímpeto desejo de ser pedra em vidraça e aproveitar toda iniciativa que leve o hábito de leitura à população em um tempo cada vez mais eletrônico e pouco reflexivo...

Para aqueles que estão em Sampa, segue abaixo os dados sobre funcionamento, para mim, este endereço entra na expectativa de visita à cidade, juntamente ao Museu da Língua Portuguesa, incentivos como esses me tocam!

Serviço:

Biblioteca de São Paulo
Endereço: Parque da Juventude. Avenida Cruzeiro do Sul, 2.630, Prédio 3
- Fica ao lado da estação de metrô Carandiru (Linha Azul)
- Há estacionamento pago para carros
Horários de funcionamento: Terça a sexta, das 9h às 21h. Sábado, domingo e feriado, das 9h às 19h
Entrada: gratuita


05/02/2010

Simplicidades poéticas

Foto: Suzana Massini

Quantas vezes não nos traduzimos tanto nas poesias ou canções escritas, a ponto de parecer ter sido 'roubados' os nossos pensamentos em quanto dormia?

Por isso costumo amar os versos mais simples, aqueles que possuem a beleza das palavras subjetivas sem parecer apenas um balaio de significados, em que muitas vezes o leitor se sente perdido, sem identificação. Prefiro as tramas que chama o leitor pra compartilhar e por vezes causar distintas impressões pessoais daquilo que é dado, como já disse Lya Luft "Para mim é aquela mesma fala no ouvido do leitor, que tanto me agrada e faço em romances ou poemas - um chamado para que ele venha pensar comigo."
Não desmereço aqui nenhuma forma poética, a arte literária como todas as outras é rica devido a liberdade de criação, mas expresso aqui apenas a estética que mais me cativa, me toca! Veja abaixo alguns exemplos dos meus autores preferidos.


Para não dizer adeus

A certeza vela atrás de um muro
ou dorme num poço
onde nada se escuta ou avista.

Sempre que partes, morro um pouco
por não saber se retornas.
Minhas mãos doem de tanto abrir-se
para que vás tranquilo.
Só assim hás de querer estar comigo:
sem que eu insista.

(Fingir que te deixo livre
é um jeito egoísta
de amar.)
Lya Luft

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"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.
(...)
Sei que precisarei tomar cuidado para não usar superficialmente uma nova terceira perna que em mim renasce fácil como capim, e a essa perna protetora chamar de uma verdade ".
Trecho de "A Paixão segundo G.H" - Clarice Lispector
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"Beijo pouco, falo menos ainda. / Mas invento palavras / Que traduzem a ternura mais funda / E mais cotidiana. / Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. / Intransitivo: / Teadoro, Teodora."
Manuel Bandeira
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- Existe uma infinidade de autores com essa sensibilidade em versos simples, outros que também gosto muito em suas crônicas, como o Caio F Abreu, Carpinejar, ou mesmo Vinícios de Moraes, mas deixarei o seu tempo livre para as buscas ou citações nos comentários, daqueles que te tocam!

By Raiana, que se transparece nos versos e sorri entre os subentendidos.